Chamado a ser Colaborador

Amados, amadas de Deus, tenho sede!

Sempre sonhei e alimentei em mim o ardente desejo de celebrar meus 25 anos de sacerdote. Certamente não programei celebrá-lo aqui e neste lugar. Mas estou feliz com o que a providencia divina preparou para mim e para nós. Afinal, os melhores caminhos de nossa vida são aqueles indicados pelo Senhor. É uma honra, uma graça, uma bênção, um prazer imenso vivermos juntos este momento tão especial da minha vida sacerdotal. Cada dom comporta um contra-dom, um compromisso, uma responsabilidade. Não mereço tanto carinho, mas Deus merece. Servir a um sacerdote é servir a Deus, de quem dele é discípulo missionário.

Celebramos hoje a memória litúrgica de São Timóteo e São Tito. Timóteo e Tito são duas figuras de grande relevo na Igreja primitiva. Chegaram à fé em Jesus Cristo como filhos amados de Paulo e dele se tornaram fiéis colaboradores. Na primeira leitura, há pouco proclamada, o apóstolo Paulo nos oferece dois elementos importantes para o nosso trabalho de missionários e evangelizadores: a fé como causa profunda de vida e o sentimento vivo e humaníssimo que se exprime com os termos do afeto mais fervoroso e profundo. Paulo chama Timóteo de “filho dileto” porque foi ele que o gerou para Cristo por meio da pregação, do batismo e da imposição das mãos. Não somente isso, mas diz a este seu filho a recordação intensa das lágrimas que derramou por causa de suas correntes na prisão. E não lhe esconde que sente saudade de revê-lo porque, naquela medida, é ele a sua alegria. O autêntico trabalho da evangelização, meus irmãos e irmãos, carrega consigo as lágrimas advindas das dores de amor pelo Reino.

Neste sentido, a liturgia de hoje nos recorda que seguir Jesus significa percorrer uma estrada longa e fatigosa. Para isto Deus nos deu um espírito de força, de caridade e de prudência e não um espírito de timidez. Nem todos devemos afrontar a prisão por causa de nossa fé, como Paulo, ou a perseguição cruenta como tantos outros irmãos e irmãs de ontem e de hoje, em diversas partes do mundo. Porém, todos podemos estar prontos a sofrer pelo Evangelho e a não nos envergonharmos de testemunhar Jesus e nos mostrarmos solidários com aqueles que são perseguidos pela fé. Aprendi com este 25 anos de sacerdote não ter medo do novo, do desconhecido, do desafiador. Herdei de Dom Hélder Câmara a consciência de que quanto maior for o desafio, mais apaixonante se torna a missão por amor ao Reino.

O maior desafio do missionário é este: o mundo é imenso. A terra é vasta, sem limites. A messe é grande, diz Jesus. Palmas é extensa, longa, comprida e complexa. Para atravessá-la de norte a sul é preciso por sandálias nos pés, bastão nas mãos e colocar os pés na missão.

No decorrer destes meus 25 anos de sacerdote, aprendi de Jesus que ninguém poderá evangelizar sozinho. Suscitar colaboradores é nossa missão. Por isto, Jesus não se contentou em escolher os doze; escolhe mais setenta e dois. E quando Ele chamava os doze apóstolos e enviava os setenta e dois discípulos, estava, de algum modo, nos chamando e nos enviando em missão. Na obra do anúncio do evangelho todos são corresponsáveis: bispos, padres, religiosos, religiosas, leigos… Não somos donos, mas servidores de um Reino que não nos pertence, mas pertence somente ao Pai do céu. Como Paulo encontrou em Timóteo e em Tito colaboradores, posso dizer convictamente e testemunhar também que encontrei aqui, em Palmas, pessoas generosas, dedicadas, acolhedoras, servidoras, com profundo senso e carisma do serviço e com sorriso fácil nos lábios de servidores gratuitos e abnegados.

A messe é grande, diz Jesus. “Peçam ao Senhor da messe que envie operários para a sua messe”. Cada um de nós, porque Corpo de Cristo, tem a obrigação de levar o evangelho a toda criatura. Mas, como fazer para superar os limites físicos do nosso próprio corpo, da temporalidade da nossa vida, da brevidade da nossa existência, da limitação das nossas forças? Como nos tornarmos ilimitados, sem espaço e sem tempo? Como fazer para tornar real e operante este divino mandato para todos os séculos dos séculos?

No correr destes meus 25 anos de sacerdote, amados, amadas de Deus, aprendi que o caminho existe e é infalivelmente eficaz, verdadeiro, duradouro, sem limite, imortal. Eis o caminho: nos tornarmos, nós mesmos, “geradores” de um grande número de outros apóstolos, missionários, evangelizadores, operários na messe do Senhor. Nós, porém, não os podemos gerar fisicamente e nem mesmo espiritualmente. Quem pode chamar, enviar, constituir, fazer ministros e administradores do seu mistério é somente nosso Pai celeste. Manifestamos a Deus, na oração, esta urgência e necessidade de sermos nós “multiplicados” ao infinito e o Senhor, do alto dos céus, realiza a nossa oração. A palavra padre quer dizer pai, pai de muitos filhos como as estrelas do céu e as areias do mar. Um apóstolo ou discípulo de Jesus que vive com verdade, santidade, justiça, caridade, compaixão, misericórdia, zelo, dedicação, responsabilidade a sua missão, vê sempre a pequenez da sua ação. Por isso, ele suscita, continuamente, colaboradores generosos, homens e mulheres dispostos a fazer da vida uma grande missão a serviço do Reino da Vida e da Verdade.

Com Paulo, Timóteo e Tito percebemos que ninguém começa a ser cristão por uma ideia, por melhor que seja, mas por um encontro pessoal com Jesus Cristo. Paulo se encontrou pessoalmente com Jesus Cristo e sua vida se transformou. Timóteo e Tito se encontraram com Jesus Cristo e foram por Ele transformados em apóstolos. Eu me encontrei com Jesus e minha vida mudou. Se posso fazer mais um pedido, apesar de já ter recebido tanto, peço apenas que me ajudem a se encontrarem com Jesus Cristo, caminho, verdade e vida, e colocar Jesus no coração e na vida de todos os homens e mulheres que se abram ao evangelho da vida.

Durante estes 25 anos de sacerdote, aprendi que a vida vivida com Jesus e em Jesus é uma realidade de amor pessoal tão sagrada e tão envolvente que deve ser cultivada a qualquer custo e compartilhada através do testemunho, com todos: “a messe é grande mas os operários são poucos”.

O ato de servir, amados, amadas de Deus, prolonga a estrada do Evangelho, através da colaboração e do sentir comum ao redor de um centro: Cristo. E, para concluir, extraímos da Palavra, apenas ouvida, a seguintes características da missão de um sacerdote, de um missionário do Senhor:

1. Ser colaborador: A isto é chamado todo cristão na sua missão, trabalhando antes de tudo sobre si mesmo, a fim de que a própria obra não seja fonte de poder, mas humilde e alegre serviço à verdade.

2. Ser servidor: A verdade de encarna sempre e somente no servir: eis porque é tão importante o serviço: porque nos faz verdadeiros por dentro e por fora. Somente a atitude de serviço qualifica a nossa missão e a torna fecunda para o mundo.

3. Estar em comunhão: As Cartas de Paulo a Timóteo e a Tito têm o sentido e o valor da comunhão com a memória, a pessoa e a missão de Cristo: sem esta união viva, nos atrofiamos em nossos próprios limites.

4. Ser amado: A amizade entre Paulo, Timóteo e Tito não é uma simples colaboração, mas amizade em Cristo, amor cristão revivido no estilo de Jesus, e tornado atual e atualizável através do exemplo e o estímulo da comunidade e daqueles que a guiam em harmonia espiritual. O amor a Jesus e à sua causa é a seiva que torna fecundo e eficaz o nosso trabalho missionário. Afinal, foi isso que disse Santo Agostinho quando afirmou: “Amor meum pondus meus”. “O meu amor é o meu peso”. O amor a Jesus é o peso de nossa vida e por ele devemos ser levados aonde quer que vamos.

5. Ser enviado: Como Timóteo e Tito, também nós somos chamados a nos sentirmos enviados por Cristo. Humilde trabalhador, operários de sua vinha do Senhor.

6. Ser missionário: sim, ser missionário. Dito isto, disse tudo.

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