VIVER A SEMANA SANTA EM PALMAS

“Onde está a sala em que posso comer a Páscoa com meus discípulos? – Um homem mostrará a vocês, no andar superior, uma grande sala, arrumada com almofadas” (Mc 14,14-15). Quem se senta em um banco da Igreja ou diante de um computador para escrever uma reportagem sobre a Semana Santa não tem a ideia da quantidade de tempo, de reuniões, de materiais, de recursos humanos e econômicos e de outros investimentos que se gasta para prepará-la. Muitos detalhes, espaços, dias, símbolos, textos e muitas ações, músicas, cores e pessoas envolvidas na Semana Santa. No Plano Arquidiocesano de Evangelização 2017, “Os Doze Cestos”, há uma profética intuição, inspirada e revelada, que me parece de suma importância para responder a esta pergunta: como viver a Semana Santa em Palmas? – Em uma Igreja, Habitante em Tendas, Perfuradora de Poços e Construtora de Altares. Parece pouco dizer isto, mas não é. O povo de Deus, conduzido por verdadeiros guias espirituais, só conseguiu viver na Terra Santa com base nos três códigos, proféticos, audaciosos e ousados dospatriarcas.
A Igreja nasceu da Páscoa de Cristo, o centro da vida e da fé dos cristãos. A missão da Igreja é testemunhar esta fé pascal. A Semana Santa é um grande retiro espiritual para o povo e deve ser vivida em clima de fé, de oração, com esforços de conversão e atitudes cristãs de fraternidade.
Resumidamente: a Semana Santa, em Palmas, deve ser vivida a partir de sete passos: 1º: viver o Domingo de Ramos e da Paixão. A Semana Santa inicia com a entrada messiânica e a acolhida triunfal e festiva de Jesus em Jerusalém. Os ramos estendidos pela multidão e o cântico que os acompanham – “hosana ao Filho de Davi. Bendito o que vem em nome do Senhor”
(Mt 21,9) -, não podem encobrir, suplantar e ocultar o que é mais importante: Jesus Cristo que assumiu nossas dores e carregou nossos pecados.
Os ramos em si, embora tenham um efeito visual bonito e estarem no imaginário popular, não traduzem e nem esgotam toda a magnitude deste evento. O ponto alto deste Domingo é a proclamação da paixão do Senhor. Ele é mais o Domingo da Paixão do que dos Ramos. E é também o Domingo da Solidariedade: dia da entrega do gesto concreto da Campanha da Fraternidade, fruto do sacrifício, do jejum, da penitência e da renúncia, para ajudar a quem mais precisa. Diz o Papa Francisco: “O verdadeiro jejum não é somente deixar de comer carne sexta-feira, fazer alguma coisinha e depois, deixar aumentar o egoísmo, a exploração do próximo, a ignorância dos pobres. O verdadeiro jejum vem do coração. O verdadeiro jejum é ajudar os outros”. Como viver este Domingo? Com os mesmos sentimentos, com os quais Cristo enfrentou a sua paixão, morte e ressurreição; com as palmas nas mãos, com ouvidos de discípulos e com a fraternidade no coração.
2º: viver a quarta-feira santa. Neste dia se celebra, com os presbíteros,diáconos, religiosos, agentes de pastoral e povo em geral, a missa da bênção dos Santos Óleos e da unidade. Como viver a quarta-feira santa? Ungidos para unir e unidos para ungir: os pastores, com cheiro das ovelhas, e as ovelhas com cheiro dos pastores, ou seja, todos com o bom perfume de Cristo, no corpo e na alma, e a bandeira da unidade nas mãos (continua na próxima publicação). 3º: viver a quinta-feira santa, primeiro dia do Tríduo Pascal. Neste dia fazemos memória da Páscoa da Ceia: “desejei ardentemente comer esta ceia pascal com vocês antes de sofrer (Lc 22,15). Em todas as paróquias serão celebradas a missa da instituição da eucaristia, do sacerdócio ministerial e do amor fraterno, através do lava-pés. Com a trasladação, a adoração e a vigília eucarísticas encerra-se solenemente a quinta-feira santa. Como viver a quinta-feira santa? Como Jesus e os apóstolos, na última ceia, lavando e deixando-se lavar os pés; com o coração sacerdotal, compartilhando o pão e vivendo a fraternidade. 4º: viver a sexta-feira santa, segundo dia do Tríduo Pascal. Neste dia se faz memória da Páscoa da Cruz. A morte de Jesus foi acontecimento cósmico e litúrgico:
“o sol se escondeu, o véu do templo rasgou-se em dois, a terra tremeu, os mortos ressuscitaram” (Mc 15,39). Fomos curados graças às suas chagas (Is 53,5). Dia de jejum e abstinência, este é o único dia em que não se celebra a eucaristia. Em todas as paróquias, por volta das três horas da tarde, coincidindo com o sacrifício dos cordeiros pascais, celebra-se a Páscoa do Cordeiro Imolado, com a liturgia da paixão e morte de Jesus, a adoração e o beijo da cruz, a comunhão eucarística e a coleta para a Terra Santa. Além das atividades que comumente as paróquias realizam, a Cia de Teatro Art'Sacra oferece uma bela encenação da vida de Jesus, na ótima da paixão, morte e ressurreição, denominada de: “Palmas aos pés da Cruz”.
Como viver a sexta-feira da paixão? Com a sede que teve Jesus, consumindo a sua obra; tocando na cruz para que ela toque em nós; como o oficial e os soldados que disseram: “Este Homem era mesmo Filho de Deus” (Mt 26,54). 5º: viver o Sábado Santo, o terceiro dia do Tríduo Pascal, a Páscoa da Ressurreição. Este é o dia da liturgia do silêncio, da editação, do luto da dor e do sofrimento na comunidade cristã porque o esposo foi retirado.
O silêncio litúrgico é bem mais eloquente do que muitas palavras. A Vigília Pascal, considerada por Santo Agostinho “a mãe de todas as vigílias”, é o cume de todo o Ano Litúrgico. Como viver o sábado santo? Como os apóstolos e Maria, aos pés da cruz; como Tomé, que disse: “vamos nós também para morrermos morrer com Ele” (Jó 11,16). 6º: viver o Domingo da Páscoa e da Ressurreição: “Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos” (Sl 118), pois, afinal, se Cristo não ressuscitou vã e à nossa fé e vã também é a nossa pregação. Nós não temos esta tradição, mas deixo aqui a minha sugestão “peregrina”: realizar, mesmo se curta, sobretudo, antes da missa matutina, a procissão do Senhor Ressuscitado.
Como viver o Domingo da Páscoa? Transbordando de alegria pascal, como Maria Madalena, Pedro e João que de madrugada vão ao túmulo de Jesus e contemplam o dia da ressurreição; não como o velho fermento da maldade e da malícia, mas com os pães ázimos: na pureza e na verdade (1Cor 5,8). 7º: viver o tempo pascal, até a festa do Divino Espírito Santo. Com viver o tempo pascal? Como dos discípulos de Emaús que, passados da desolação à consolação, a Palavra aqueceu o coração e a eucaristia abriu os olhos e, imediatamente, retornam à missão. Estas são as Tendas que deveremos armar, como Jesus armou a sua, em nosso meio, para abrigar os fiéis que nos procurarão nesta Semana
Santa. São estes também os Poços que deveremos perfurar, como Moisés, com o seu cajado, para dar água ao nosso povo, sedento de Deus. E, por fim, são estes os Altares que devemos erguer, a fim de que o povo possa cultuar e adorar ao Rei dos Séculos, Imortal e Invisível, Deus Vivo, Senhor da História, o Único Vivente, Aquele que veio, vem e virá, ao qual merece toda honra e toda glória, pelos séculos dos séculos. Amém!
Para que, enfim, todo este investimento? Para iluminar as nossas mentes, tocar os nossos corações, e destravar os nossos pés, a fim de sejamos profundamente humanos, radicalmente cristãos e autenticamente presbíteros, diáconos, religiosos e leigos, sal da terra e luz do mundo, na Igreja e na sociedade.
Finalmente, uma Santa e Abençoada Semana Santa para todos e para todas.

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