O evangelho que liturgia desta quarta-feira nos propõe fala de duas condições para seguirmos a Cristo: a renúncia de si próprio e cruz. Vejamos o que Cristo nos diz:
Lucas 14,25-35
Grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele lhes disse:
"Se alguém vem a mim, mas não me prefere a seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs, e até à sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua cruz e não caminha após mim, não pode ser meu discípulo.
De fato, se algum de vós quer construir uma torre, não se senta primeiro para calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, ele vai pôr o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso começarão a zombar: “Este homem começou a construir e não foi capaz de acabar!”
Ou ainda: um rei que sai à guerra contra um outro não se senta primeiro e examina bem se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? Se ele vê que não pode, envia uma delegação, enquanto o outro ainda está longe, para negociar as condições de paz.
Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo!"
"O sal é bom. Mas se até o sal perder o sabor, com que se há de salgar? Não serve nem para a terra, nem para o esterco, mas só para ser jogado fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça".
A primeira coisa que salta aos olhos é o público para o qual Jesus dirige esta mensagem: para a MULTIDÃO. Essas duas exigências do seguimento não são apenas para os consagrados (padres, freiras), mas para todos os batizados! Jesus quer nos ensinar a sermos cristãos de verdade, e não cristãos pela metade.
No original grego, o termo correto para "não me prefere a seu pai…" é miseo, que quer dizer "odiar a seu pai…". Mas é claro que Jesus não pregou o ódio por nossa família! Trata-se de uma figura de linguagem usada na época, para indicar que mesmo as relações familiares devem ficar em segundo plano se estas nos impedem de seguir a Cristo. Também, no original grego, o termo para "[odiar] a vida" é "[odiar] a psiqué", que significa a força vital que nos anima (alma). Ou seja, para seguir a Cristo, é preciso também deixar nossas vontades e desejos em segundo plano!
Essa primeira exigência pode ser identificada pelo nome de renúncia. Seguir a Cristo é renunciar a tudo o que nos impede de caminhar com Ele. No final deste evangelho, Nosso Senhor vai nos falar do sal. A renúncia é justamente o sal do discipulado, aquilo que dá sabor e sentido no seguimento de Cristo, por mais paradoxal que isso possa parecer.
A segunda exigência que Cristo apresenta é tomar a cruz e seguir após Ele. O "tomar a cruz" é consequência da renúncia mencionada acima. Muitas vezes, para fazer a vontade de Deus, temos renunciar a certos momentos prazerosos com nossos familiares, ou até mesmo renunciar coisas boas que nós poderíamos realizar. A grande questão da renúncia que Cristo nos pede não é escolher entre uma coisa boa e outra ruim, mas entre duas coisas boas (no caso, fazer a vontade de Deus para aquele momento ou realizar uma atividade prazerosa, estar com a família…)! Esse preferir a Cristo pode se constituir uma cruz para nós.
Mas por que o Senhor exige isso de seus discípulos? Ele explica nas duas parábolas que conta nesse evangelho: o homem que constroi e a torre e o general com o exército pequeno. Cristo quer uma adesão consciente, entusiasmada, à sua vontade. É preciso reunir forças para seguir a Cristo. Mas, se entramos no seguimento do Senhor repletos de bens, verdades, valores que julgamos corretos, preconceitos, apegos e paixões, logo logo toda essa "quinquilharia" vai pesar sobre nossos ombros, e seremos obrigados a parar o seguimento. Quantos começam no Espírito, como vai dizer São Paulo aos Gálatas, e terminam na Carne? Ou seja, quantos começam a seguir a Jesus e logo o abandonam? Essas pessoas são motivo de zombaria para os inimigos de Deus.
É por isso que Jesus nos exorta: para segui-lo, precisamos renunciar a todo esse peso desnecessário. Basta carregar a cruz.
Por João Paulo Veloso
Seminarista da Arquidiocese de Palmas
jpauloveloso2@gmail.com